Primeiramente, é necessário entender que a perfumaria é uma arte milenar. E para aqueles que acreditam que a França é o berço desse ofício, afirmo de início que essa é uma informação incorreta. A perfumaria existe desde os primórdios da humanidade, sendo impossível datar seu nascimento. Os primeiros registros sobre os perfumes e as suas formas de utilização são datados em a.C., em civilizações da Antiguidade, como a do Antigo Egito. Antes desses registros, sabe-se que a espécie humana desenvolveu uma relação privilegiada com o olfato, o qual era muito mais utilizado e apurado antes de assumirmos a postura ereta. Fato é que a perfumaria não é algo moderno. Muito pelo contrário, antes de a conhecermos nos moldes atuais, ela já era utilizada com diversas finalidades: ritualísticas, medicinais, estéticas etc. Aqui vale ressaltar que a PERFUMARIA NATURAL foi a primeira perfumaria a existir e é justamente ela que dá origem a todos os outros tipos de perfumaria que conhecemos hoje.
Civilizações antigas, a exemplo do Egito e da Grécia, utilizavam os perfumes com uma finalidade espiritual. Eles queimavam resinas e plantas aromáticas com o objetivo de se comunicar com seus deuses. Logo, para esses povos, o perfume era algo divino, era a ponte de comunicação entre Deus e os homens. Dessas práticas ritualísticas surgiu a inspiração para o nome “perfume”, cuja origem, do latim, per fumus, significa “através da fumaça”. Há indícios de que nessas sociedades já eram utilizadas matérias-primas raras, tais como o jasmim, a rosa, a mirra e o olíbano. Conta a história que as belas egípcias utilizavam perfumes para vários momentos: “tinham perfumes diferentes dependendo dos dias, das partes do corpo, do seu temperamento”.¹
Essa sofisticada arte, durante muito tempo, foi dominada pelos orientais e, só depois chegou à Europa. Antes de a França entrar na jogada, quem passou a dominar a perfumaria no ocidente foi a Itália, que mantinha relações comerciais com o oriente e que, graças aos altos investimentos dos banqueiros de Florença, no século XV, obteve acesso às técnicas de cultivo das plantas aromáticas, bem como da extração dos óleos essenciais. Por volta de um século depois, principalmente com a união da italiana Catarina de Médici com o Rei Henrique II, é que a França começou a participar mais ativamente da perfumaria. Conta-se que Catarina levou consigo à França o seu renomado perfumista, René Le Florentin, e que graças às relações diplomáticas entre esses dois reinos, os franceses descobriram as técnicas orientais de cultivo das flores, das especiarias e da extração dos perfumes.
Na Europa, o perfume se transforma em um verdadeiro luxo. É claro que eu me refiro aos perfumes naturais. Eles eram privilégio da nobreza, de Reis, de Rainhas e de toda a classe que podia arcar com os altos custos das essências naturais. A Princesa de Nérola (Marie-Anne de La Trémoille) tornou célebre a água de flor de laranjeira, pois tinha o hábito de perfumar suas luvas com essa essência natural rara, batizada como Néroli em sua homenagem. O imperador Napoleão não conseguia viver sem sua água de colônia feita com flor de laranjeira e cítricos nobres que, em geral, vinham da Itália.
O perfume da Rainha da Hungria foi uma revolução nesse universo, já que, com base nele, surgiram os primeiros perfumes à base de álcool do ocidente, que mudaram a história do consumo de perfumes. No final do século XIX, a química orgânica começou a se desenvolver e a perfumaria natural, a perder força, sendo substituída aos poucos pela perfumaria sintética. Coty revolucionou os perfumes sintéticos; Channel não ficou para trás, especialmente com seu Chanel nº 5, sensualizado por Marilyn Monroe. Daí em diante, o campo e o mercado da perfumaria protagonizaram uma expansão sem precedentes, perfumaria e moda passando a andar lado a lado.
No século XXI, principalmente a partir de 2010, o público mudou. Para ele, os bens de consumo passam a estar mais associados a seus significados, à consciência na hora de consumir, a um estilo de vida, a valores éticos e estéticos, e de saúde, tendência que o mercado da perfumaria acompanha. No entanto, o que se vê hoje não é o nascimento de uma nova perfumaria: mas o resgate de uma arte muito mais antiga do que imaginávamos. A perfumaria natural conquista seu lugar novamente, adaptando-se às necessidades de consumidores exigentes que buscam muito mais do que um perfume, mas também a qualidade de vida, a história por trás de cada fragrância e a personalização, pois através dela contamos nossa própria história e descobrimos a nossa verdadeira essência. Estamos vivendo uma fase de ouro na perfumaria, em que vemos muito além do frasco e buscamos cada vez mais conteúdo.
FLORES, Angélica. “O que é Perfumaria Natural?”. Blog Perfumaria Natural. Curitiba, 13 de maio 2019. Disponível em: https://www.labriseparfum.com/o-que-e-perfumaria-natural/
Referências:
¹ BARRY, Nicolas de. A arte dos Perfumes: colônias, sabonetes, sais de banho, velas. São Paulo: Editora Senac São Paulo: Boccato, 2012.